sábado, 9 de abril de 2016

A criação e a educação dos filhos

Descrever de forma plena o sentimento dos pais por um filho é algo muito complexo e para muitos, quase impossível. É um tipo de sentimento exclusivo da maternidade e da paternidade. E cada um interpreta, usufrui e sofre com esse sentimento de uma forma totalmente diferente. Mesmo assim muitos se arriscam a descrevê-lo.

Um filho pode ser definido, de maneira bem humorada, como um pedacinho de nós, vinte e quatro horas por dia correndo perigo, quase que totalmente fora do nosso controle. Por isso, nos preocupamos tanto com eles. E essa preocupação custa aos pais, em todos os sentidos, tanto materiais quanto emocionais. Na realidade, criar e educar um filho não deve ser considerado como um custo. Mas, sim, como um investimento. Muito embora seja um investimento ao longo de muitos anos cujo resultado esperado é um tanto quanto incerto.

Esperamos especialmente que eles sejam pessoas do bem e para o bem. Mas também esperamos que consigam, numa visão mais pragmática, serem bem sucedidos economicamente a tal ponto de, no mínimo, conseguirem os meios para se sustentar a partir da chegada à idade adulta. Nos dias atuais, os investimentos nos filhos começam mesmo antes de sua concepção. E continuam por muitos anos, em alguns casos, adentrando até a sua idade adulta. Por isso os pais esperam muito mais tempo para ter certeza de que não precisam mais investir na educação e na formação de seus filhos.

É comum ouvir pessoas dizendo que, nos dias atuais, ter um filho custa muito caro. Proporcionar a uma criança que nasce hoje todas as condições humanas, psicológicas, emocionais e econômicas definitivamente não é fácil. Exige muita dedicação e renúncia. Porém, criá-los, por mais custoso que seja, não é, nem de perto, tão angustiante quanto o grande desafio dos pais contemporâneos que consiste em inserir seus filhos já adultos no mundo atual que vivemos. Antes de se tornarem adultos, seu mundo é o mesmo dos seus pais. Quase tudo que eles precisam depende dos pais. As escolhas deles são, na maioria das vezes, as escolhas dos pais.

Parece até uma preocupação desmedida, mas não é. Encontrar um lugar onde o filho se sinta realizado, feliz e viável economicamente, fora do guarda chuva protetor dos pais, é uma tarefa para gigantes. Muito maior e muito mais custosa do que simplesmente criá-lo e educá-lo. É verdade que o lugar no mundo será encontrado com maior facilidade pelo filho, se os pais conseguirem completar o seu processo de formação no primeiro terço de sua vida. Considerando que as pessoas jovens hoje viverão, em média, 75 anos, o primeiro terço se completaria aos 25 anos, idade em que normalmente as pessoas concluem sua formação educacional, concluindo um curso superior.

Esse lugar no mundo é muito complexo porque não envolve somente um lugar para trabalhar e garantir sua sobrevivência material, mas, sim, um lugar onde ele possa constituir uma família, um círculo de amizade e se estabelecer de forma plena como pessoa e como cidadão.

São inúmeros os exemplos de filhos de pais cujo trabalho de formação foi o mais esmerado e cuidadoso possível. Mesmo assim, uma vez adultos e formados, os filhos encontraram uma série inimaginável de circunstâncias e adversidades com as quais eles não estavam preparados e suas ações e reações diante desses acontecimentos fazem sofrer pais e filhos. Isso porque, por mais que os pais tenham feito, não é possível viver pelos filhos.

Sofrimentos e angústias farão parte de suas vidas e somente eles poderão enfrentá-las, pois este é um processo de amadurecimento que ocorre concomitante ao encontro do seu lugar no mundo.

Muitos de nós, já adentrando ao terceiro e último terço da vida ou já quase em seu fim, nos questionamos: será que ao longo da vida conseguimos realmente encontrar o nosso lugar no mundo? A cada crise existencial que temos esse questionamento ronda o nosso interior. E como, infelizmente, só sabemos como as coisas foram e jamais saberemos como elas seriam, caso tivéssemos feito escolhas diferentes, ficamos sem resposta para essa dúvida.

Cada casal, se questionado, tem uma receita para educar seus filhos. A título de conhecimento e de troca de experiências, é sempre válido ouvi-las. Mas não existe uma receita pronta porque cada casal forma um time diferente e quando vêm os filhos, esses novos membros também são diferentes entre si e muito diferentes dos filhos de outros casais.

Cada família é uma célula social com características próprias porem tendo que viver e constituir novas células sociais num mundo que é coletivo, que é de todos. Fora do lar e da família, a regra, a lei e a economia são feitas de forma igual para todos. Quanto melhor os pais entenderem o funcionamento desse mundo exterior à família e quanto mais conversarem entre si, menor será a dificuldade para preparar os filhos para enfrentarem o grande desafio de suas vidas. Qual seja, conforme já descrevi anteriormente, encontrar um lugar para eles nesse mundo onde as dificuldades e as adversidades sejam enfrentadas com a maior maturidade possível.

Talvez o segredo nem seja encontrar o lugar no mundo mas, sim, preparar os filhos para conviver em todos os lugares, o que dará condições a eles de encontrarem sozinhos o seu melhor lugar.

Autor: Alfredo Fonceca Peris

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