quarta-feira, 25 de março de 2015

Consultor de empresas: um “soldado quase sem armas”

Os diferentes resultados obtidos por uma empresa de consultoria, quando da realização de um trabalho em uma empresa ou grupo de empresas, particularmente na área de gestão empresarial, normalmente não podem ser lidos sempre utilizando o mesmo parâmetro de comparação. Isso me parece claro. E sabem por quê? Simplesmente porque estou chegando à conclusão de que o consultor é um “soldado quase sem armas”. Quando esse tem armas, as mesmas são, na grande maioria das vezes, dadas pela empresa ou pelo grupo de empresas em que ele realiza o trabalho. E muitas vezes a própria empresa contratante não tem essa consciência e nunca a adquire. Durante a execução do trabalho ou ao seu término, avalia os resultados como sendo exclusivos da ação da consultoria e de sua interação com a empresa, sem levar em consideração o ambiente propicio à ação da consultoria e à sua efetividade, existentes quando do início do trabalho.

As condições dadas pela empresa ou pelo grupo de empresas para a ação da consultoria são muito mais significativas e decisivas para o êxito de um trabalho de consultoria do que o conjunto de habilidade, aptidão, conhecimento e experiência dos consultores. É óbvio que um profissional para se considerar consultor precisa reunir um conjunto múltiplo de habilidades, aptidões, conhecimentos e experiências sem os quais não pode se denominar consultor de empresas, particularmente na área de gestão empresarial. E a consultoria como um todo – quer ela seja formada por uma pessoa ou por uma equipe – precisa ter uma metodologia de trabalho desenvolvida e já devidamente testada. Mas só isso não basta. Isso não é arma suficiente para enfrentar a batalha que é a transformação de uma empresa ou grupo de empresas, incorporando às mesmas, uma metodologia de trabalho que permita alçá-la a outro patamar de ação e de organização e às vezes até de viabilidade.

Isso porque consultor de empresas, contrariando o que infelizmente muitos pensam, não faz milagres. Se as condições postas – e oferecidas pela empresa – não forem suficientes, dificilmente um trabalho de consultoria obterá o êxito esperado. Mesmo que a equipe de consultores tenha todas as condições técnicas para a execução do trabalho.

Essa consciência remete o consultor a um questionamento muito significativo: com qual expectativa estou sendo contratado? O que o empresário que me contrata e, por conseqüência, todos que fazem parte dessa empresa ou grupo de empresas espera como resultado da ação da consultoria na empresa?

Essas premissas devem ser levadas em consideração porque não é somente o público interno à empresa que cria expectativas. Os fornecedores, os clientes e, principalmente, os credores da empresa criam expectativas. Ou seja, a expectativa, dependendo do tamanho e da importância da empresa, passa a ser também do mercado onde essa empresa atua. E se as condições postas e dadas pela empresa não forem suficientes, a frustração se dará e poderá causar sérios e fortes prejuízos àqueles que apostaram no sucesso do trabalho.

Por isso, dependendo da situação vivida pela empresa, faz-se necessário considerar, previamente, em nível de diagnóstico, no mínimo os seguintes aspectos:

a) Patrimônio total da empresa;
b) Patrimônio com liquidez e capacidade de ser transformado imediatamente em caixa;
c) Capacidade produtiva instalada;
d) Disponibilidade dos sócios em se desfazer de bens imóveis para investir na empresa;
e) Valor e grau de obsolescência dos estoques;
f) Montante e qualidade dos recebíveis;
g) Tamanho da empresa;
h) Tamanho do mercado – em termos qualitativos e quantitativos -, além da sua extensão geográfica;
i) Custo de atendimento desse mercado geográfico considerado;
j) Grau e perfil do endividamento;
k) Margens de comercialização;
l) Equipe de funcionários do setor produtivo, comercial e administrativo;
m) Equipe de profissionais liberais como contadores, profissionais de TI, engenheiros e, principalmente, advogados à disposição da empresa e com conhecimento sobre a empresa e o seu negócio;
n) Grau de entendimento e predisposição dos diretores e sócios para aceitar a intervenção de uma consultoria dentro da empresa;
o) Pré-disposição dos diretores a acompanhar diária e efetivamente a ação da consultoria.


Esse diagnóstico prévio – e que deverá ser feito antes mesmo da negociação das condições do trabalho -, dará à consultoria uma noção das condições postas e dadas pela empresa e, também, uma noção do quão suficiente são as condições para o consultor realizar o trabalho esperado.

As condições podem ser melhoradas ao longo do trabalho? Sim, claro. E é normal que isso ocorra. Todavia, implicará na obtenção de resultados menores e com um prazo maior para sua ocorrência.

E se as condições dadas forem insuficientes? Muito provavelmente o resultado será frustrante para a consultoria contratada e para a empresa contratante. Todavia, quando o trabalho for um sucesso, é prudente jamais se esquecer das condições suficientes dadas e postas para a consultoria. E aos consultores envolvidos no trabalho, calma com o excesso de empolgação e crença no sucesso pessoal e pé no chão para saber reconhecer que, embora o trabalho tenha sido bem feito, sem a existência de um ambiente favorável e de condições suficientes o resultado definitivamente não teria sido o mesmo.

Autor: Economista Alfredo Fonceca Peris