sexta-feira, 31 de outubro de 2014

É fácil mudar?

Uma das palavras mais ouvidas nos últimos dias, particularmente durante a campanha eleitoral, que reelegeu a Presidente Dilma para mais 04 anos de governo, foi mudança. E a maioria dos eleitores, mais precisamente 51,64% do total, disseram não à mudança. Independente de preferências político-partidárias, pode-se parar para analisar porque a maioria dos eleitores disse não.

Mas qual seria a mudança proposta? Será que os eleitores, mesmo aqueles que votaram na oposição, entenderam o que iria mudar? Será que a mensagem passada foi capaz de fazer os eleitores entenderem o que iria mudar e por que teria que mudar? São perguntas difíceis de serem respondidas. Mesmo porque se feitas a dez eleitores, provavelmente obter-se-ia dez respostas diferentes.

Considerando que sou um dos dez eleitores entrevistados, vou dar minha resposta. A mudança proposta não ficou clara. Lógico que depois do feito passado, fica muito mais fácil de fazer a leitura do que ocorreu e ver que a oposição não conseguiu deixar claro para a maioria dos eleitores que o que precisava e iria ser mudado seria a forma de governar. E não a forma com que o Governo transfere dinheiro – de forma direta e indireta - aos que têm menos. Dizer que esses são os “menos favorecidos” talvez seja uma forma simplista, paternalista e populista de analisar a situação. E que não contribui em nada para tirá-los da situação em que se encontram.

A palavra mudança, naturalmente, assusta as pessoas. Embora tenha se transformado na palavra da moda nos meios políticos e no meio empresarial, a mudança nunca é vista com bons olhos. Pelo menos não inicialmente. Quase todas as pessoas dizem que precisam mudar, porém não mudam. Ou, quando mudam, o fazem com pouca intensidade. Porque naturalmente nós seres humanos nos confortamos muito mais com a estabilidade do que com o caos. E o caos é a conseqüência natural da mudança. Pelo menos a primeira conseqüência.

Portanto, toda vez que se propõe uma mudança em algum processo ou na forma de se fazer algo, se faz necessário todo um trabalho de preparação das pessoas envolvidas para a mudança. Isso porque eu acredito muito mais na melhoria ou na piora do ser humano do que na mudança. As virtudes básicas e a essência do comportamento do ser humano já vêm pronto da barriga da mãe. Uma pessoa efetivamente boa vai ser boa a vida toda. Porém, se motivada, educada e ensinada de forma correta, será muito melhor a cada novo dia. Contrariamente, uma pessoa má, mesmo motivada, educada e ensinada, lá no fundo ela continuará má. Embora isso seja passivo de muitos questionamentos, é só fazer uma observação no comportamento daqueles que os cercam e verão que dificilmente você transforma uma pessoa boa numa pessoa má ou uma pessoa má numa pessoa boa.

Da mesma forma, são outras características e virtudes. Penso que é muito mais fácil melhorar do que mudar completamente. E aí existe uma linha muito tênue que distingue a forma de atuação e condução de um processo de mudança. Se as pessoas têm enormes dificuldades para mudar, porque elas irão aceitar uma mudança nas condições de trabalho, nas condições de saúde, segurança e educação, por exemplo, proporcionadas pelo Estado? Se essas mudanças não forem bem explicadas e a mesma se sentir segura de que o que mudará será somente aquilo que a fará viver melhor e mais confortavelmente, ela jamais dirá sim a essa proposta de mudança.

O primeiro passo consiste em explicar detalhada e exaustivamente para as pessoas por que há a necessidade de mudar. Explicar o que irá ficar como está e o que efetivamente irá mudar. O passo seguinte é iniciar a mudança e acompanhar as pessoas para corrigir as distorções do processo e auxiliá-las na superação dos seus medos, que é uma reação natural e que se constitui numa das razões da resistência à mudança. O medo do que será diferente daquilo com as quais elas já estão acostumadas.

No caso do Brasil, a maioria disse não à mudança e agora só terão a chance de dizer novamente se querem ou não uma mudança daqui a quatro anos, isso em condições normais de condução do Governo. Porém, nas empresas, o processo é diferente. Se alguém diz não a uma mudança hoje, talvez poderá dizer sim amanhã. Não precisará esperar quatro anos. Agora nem por isso, mudanças precisam acontecer todos os dias ou em um pequeno intervalo de tempo. Muitas vezes nem precisa mudar. Basta apenas melhorar os processos ou corrigir a conduta das pessoas na organização que o resultado virá sem que ninguém precise se apavorar.

Porém, para isso, quem dirige a organização terá que saber exatamente o que precisa mudar e o que precisa ser apenas aprimorado. Será necessário ter a sensibilidade para perceber isso e capacidade para explicar ao grupo a razão da mudança ou do aprimoramento. E mais: precisa saber conduzir o processo para que a instabilidade provocada pela mudança ou pelo aprimoramento do processo seja entendida pelo grupo como uma conseqüência natural em direção ao alcance de um objetivo maior e melhor para todos. Junto com a mudança ou o aprimoramento deverá vir o programa de recompensas. Nessa hora o ser humano se comporta como um animal que só faz o que o treinador pede porque sabe que ao final receberá uma recompensa. Pode parecer absurda essa comparação, porém, não é. Observe o comportamento das pessoas e veja se todos não agem assim. No campo das relações sociais e afetivas e, no trabalho, estamos sempre esperando uma recompensa. Essa é a maior motivação.

Dizem que as pessoas só mudam pelo amor ou pela dor. Penso que nem por um e nem pelo outro. Prefiro dizer que as pessoas melhoram ou pioram pelo amor ou pela dor. E, particularmente, só melhoram quando vêem a possibilidade de uma recompensa. No trabalho, preferencialmente em espécie, ou seja, em dinheiro.

Portanto, antes de falar em mudança, pense em melhoria. Antes de falar em melhoria, peça a opinião de seus pares e integre-os ao processo. Sabendo o que será feito, porque será feito, quem fará e quais as melhorias a serem alcançadas individualmente e pelo grupo, o caos será menor e melhor administrado e a estabilidade será atingida mais rapidamente e com menos traumas.

Pense nisso e uma ótima semana.
Autor: Alfredo Fonceca Peris