terça-feira, 26 de novembro de 2013

O caixa e a prisão

O que essas duas palavras tão fortes têm a ver uma com a outra? Numa primeira análise, pode-se concluir que nenhuma. Porém, uma análise mais cuidadosa pode ser capaz de fazer uma comparação interessante. Nesses dias difíceis em que o País assiste ao episódio da prisão de membros do partido que atualmente está no Governo, pode-se aproveitar para se discutir um assunto que, normalmente, não é motivo de nenhum questionamento: o sistema prisional do país.

Enquanto somente os membros das classes menos favorecidas vivem o drama das prisões, poucos falam a respeito. Todavia, quando pessoas influentes e membros da elite social, política e econômica do país são condenadas à prisão, o assunto passa a ser mais comentado. É óbvio que será esquecido rapidamente em função de tantas outras informações de mais interesse coletivo e, por extensão, da mídia em geral. Todavia, o Brasil poderia fazer um questionamento tomando como exemplo a situação dos condenados do episódio denominado “Mensalão”.

Daí surge espaço para a comparação entre o caixa e a prisão. Tudo aquilo que uma empresa ou uma família faz bem feito reflete positivamente no seu caixa. Tudo aquilo que uma empresa ou uma família faz mal feito igualmente reflete no seu caixa, só que de maneira negativa. Portanto, quanto melhor as coisas forem feitas, melhores os impactos sobre o caixa e melhor a satisfação de todos.

Da mesma forma é a família e a sociedade em relação à prisão. Tudo aquilo que é feito em desconformidade com a lei vai ou deveria ir para a prisão. O que é bem feito e de conformidade com a lei reflete de forma positiva sem que a prisão sequer seja cogitada. Por extensão, quanto mais pessoas estejam na prisão, mais significativo é o fracasso da família e da sociedade. E o mais lamentável é que essa problemática não é ouvida em nenhum momento em que se debatem os grandes problemas do país.

População carcerária numerosa é um dos maiores sintomas de doença de uma sociedade. Pobreza é fruto de exclusão e fato gerador de violência que leva ao aumento da população carcerária. É fácil, quando se ouve falar de um crime hediondo, dizer: esse ou essa pessoa deveria apodrecer na prisão. É lógico que quem comete crimes tem de pagar por eles. É óbvio que, em algum momento, a sociedade terá que colocar na sua lista de prioridades, a busca por soluções para a prisão. Tanto para as suas condições de funcionamento quanto para impedir que as pessoas precisem ser condenadas.

Além de questionar o modelo prisional, precisam ser questionadas as causas que levam as pessoas à prisão. Será que essa derrota para as famílias e para a sociedade não merece um debate maior? Quantas vezes nos colocamos no lugar, que seja em pensamentos, de alguém condenado a viver em uma prisão por anos? Além da privação da liberdade, o enfrentamento de condições muitas vezes inóspitas e violentas. E a relação com a família, fora da prisão e desprovida da presença e da proteção da figura da mãe, do pai, do filho, do irmão, como fica?

Pense nisso e uma boa semana!

Autor: Alfredo Fonceca Peris
Economista e sócio-diretor da Peris Consultoria Empresarial