terça-feira, 10 de julho de 2012

A importância da empresa-escola para a cidadania e para a formação profissional

Para um jovem, a oportunidade de escolher a primeira empresa onde irá iniciar sua carreira profissional nem sempre é uma possibilidade. Particular e mais dificilmente quando se está iniciando a carreira profissional em momentos de crises econômicas e de maior desemprego. Ser escolhido por uma empresa para iniciar a vida profissional em momentos assim já é motivo de muita comemoração e de sentir a sensação de ter obtido um grande triunfo. Independente de ser em uma empresa-escola ou não.

Contrariamente, em momentos como o que o Brasil experimentou desde o início do ano de 2010 e que ainda parece permanecer nessa segunda metade do ano de 2012, em que a demanda por mão de obra superou rapidamente a oferta, particularmente de mão de obra especializada, as possibilidades de escolha se tornaram mais factíveis e mais reais.

É em momentos assim, cujas possibilidades de escolha existem, que os jovens que estão iniciando suas carreiras profissionais podem considerar, dentre as vantagens oferecidas pelas empresas, a oportunidade de fazer parte de uma empresa onde as equipes estejam preocupadas com o ensino e o aprendizado prático voltado para a cidadania e para a formação profissional de seus membros.

A minha carreira profissional, iniciada no auge da crise dos anos 1980, mais precisamente em fevereiro de 1982, foi marcada por enormes dificuldades para conseguir meu primeiro emprego, por conta da possibilidade iminente de ter que cumprir meu serviço militar, pelo fato de ter migrado do campo para a cidade sem nenhuma formação específica para a atividade no meio urbano e pelas dificuldades que as empresas passavam naqueles difíceis anos 1980. Fiquei por um ano diariamente batendo de porta em porta até que conseguisse minha primeira oportunidade.

Todavia, quando consegui tive a sorte de ingressar em empresas que eram mais que simplesmente empresas, eram verdadeiras escolas onde se ensinava a trabalhar e a ser cidadão. Decorridas três décadas desse difícil começo sou muito grato pelo aprendizado que me foi proporcionado nessas verdadeiras empresas-escolas.

A evolução da economia brasileira, notadamente como conseqüência da abertura da economia e da estabilidade monetária, seguida de uma série de medidas complementares que vêm gradualmente modernizando a economia, vem criando uma situação de concorrência tal em que o ensinamento e o aprendizado, visando à cidadania e o aprendizado profissional do trabalhador fica consideravelmente prejudicado.

Justamente quando se faz necessário reduzir custos e inovar para aumentar a competitividade parece que há um abandono de práticas de ensino e aprendizado que promovam inovações e proporcionam aumento de produtividade que é, seguramente, a melhor e mais eficaz forma de se reduzir custos.

Posso estar enganado, uma vez que meu espaço de observação está restrito a uma área geográfica e secundária na hierarquia das áreas de concentração econômica do Brasil, a Região Oeste do Paraná, e espero que realmente esteja enganado. Mas a impressão que tenho é que as empresas-escolas estão cada vez mais escassas. Por isso, quem tem a oportunidade de trabalhar e, principalmente, iniciar suas carreiras profissionais em uma delas, não percam a oportunidade. Não sejam imediatistas e não olhem somente o ganho atual em termos monetários. Preocupe-se e valorize o ensinamento voltado para a cidadania e para o aprendizado de práticas produtivas e administrativas metódicas, coerentes e competentes. E é no entorno dessa filosofia que gravitam as empresas-escolas. Somente de forma metódica, coerente e competente, desde que de forma consciente exista a preocupação de ensinar enquanto se trabalha, que se consegue transformar uma empresa em uma empresa-escola.

Autor: Alfredo Fonceca Peris
Economista e sócio-diretor da Peris Consultoria Empresarial