segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O Processo de Ensino e Aprendizagem nas Empresas: um enfoque na educação informal

Historicamente, no Brasil, temos atribuído o processo de ensino e aprendizagem, de maneira mais direta e objetiva, à escola. Sendo que a esta cabe essencialmente a educação formal. Para Flávia & Joana (2007)¹: “A educação formal pode ser resumida como aquela que está presente no ensino escolar institucionalizado, cronologicamente gradual e hierarquicamente estruturado.”

Numa visão mais abrangente da educação pode-se acrescentar ao processo de ensino e aprendizagem a educação não-formal e a educação informal.  Para as mesmas autoras: “A educação não-formal, porém, define-se como qualquer tentativa educacional organizada e sistemática que, normalmente, se realiza fora dos quadros do sistema formal de ensino.” Já a educação informal pode ser entendida como “... aquela na qual qualquer pessoa adquire e acumula conhecimentos, através de experiência diária em casa, no trabalho e no lazer.”

Atualmente, numa sociedade tecnológica e em termos de conhecimento, sem fronteiras, como a atual, na qual as inovações surgem a todo tempo, não se pode deixar a responsabilidade de ensinar somente à escola. Ganha, cada vez mais importância na formação da pessoa, o ensino não-formal e o informal. E nesse contexto, penso que as empresas podem se transformar em agentes mais ativos nesse processo. Tanto no incentivo para que o seu colaborador conclua o seu processo de ensino formal quanto se mantenha em constante processo de educação valendo-se, tanto da educação não-formal quanto e principalmente, da educação informal.

Nos grandes centros urbanos do País e, principalmente, nas grandes empresas, são normais as práticas de educação, nas suas três formas. No interior e nas pequenas e médias empresas, muitas vezes sequer são facilitadas as condições para que os seus colaboradores concluam seu ensino formal e, raramente, possam valer-se da educação não-formal.

Especialmente agora, no início da segunda década do Século XXI, momento em que o Brasil experimenta um novo ciclo de crescimento econômico, com conseqüente redução do desemprego, se faz importante discutir o papel da empresa nesse processo. Isso se dá pelo fato de que, primeiro, estamos tendo a oportunidade de proporcionar aos jovens um emprego em uma empresa bem mais cedo que em momentos de crises econômicas. Segundo, porque o Brasil apresenta índices de aumento de produtividade, particularmente na indústria de transformação, muito abaixo dos índices obtidos, nos últimos anos, tanto pelos países desenvolvidos quanto por países em estágio de desenvolvimento semelhante ao nosso.

O estudo Key Indicators of the Labour Market, publicado pela OIT – Organização Internacional do Trabalho², em 2007, mostra o resultado de uma pesquisa feita sobre os ganhos de produtividade na indústria de transformação, em um grupo selecionado de países desenvolvidos e em desenvolvimento, no período compreendido entre os anos de 1980 e 2005. O Brasil apresenta um resultado incompatível com o tamanho de sua economia e com o seu atual estágio de desenvolvimento.

Sobre a importância do processo de ensino e aprendizagem formal, muitas teorias já foram desenvolvidas e existem excelentes trabalhos de vários autores, como, por exemplo, Bordenave (1984), Mizukami (1986), Saviani (1984), Libâneo (1982), entre outros. O próprio Freud revolucionou os processos educacionais, no Século XX, com suas teorias. O processo de ensino e aprendizagem formal conta, segundo os teóricos, com quatro agentes principais: a escola, o aluno, o professor e o processo de ensino e aprendizagem (ver Vatan, 2005)³.

Todos esses elementos são essenciais para o processo de educação formal. Porém, podemos adaptar esses elementos à empresa. Nesse caso, ao invés do elemento “escola” teríamos o elemento “empresa”. Também podemos considerar as empresas como escolas. O aluno passa a ser o colaborador, o professor será seu superior imediato ou colega de trabalho mais experiente e o processo de ensino e aprendizagem pode ser melhorado com a intervenção e o incentivo da empresa. Estas podem desempenhar tanto o ensino não-formal quanto o informal. No Brasil, o educador Paulo Freire foi outro que muito contribuiu para a evolução de nossa pedagogia, com sua abordagem sociocultural, exatamente por valorizar a educação informal, visando, essencialmente, educar adultos. A escola, numa visão mais ampla, deve ser entendida e compreendida como todo e qualquer lugar onde o processo de ensino e aprendizagem acontece.

O aprendizado acontece mesmo sem o ensino, porém o ensino sempre será seguido de aprendizado. E o interessante é que todo o aprendizado tem um custo, tanto no que se refere ao dispêndio de recursos materiais e financeiros, quanto ao tempo e ao esforço pessoal. E quanto mais antecedido e seguido de ensino for o aprendizado, menor será o seu custo. Aqui reside o grande ganho do aprendizado. Isto é, quando o aprendizado é rápido, o custo é menor e o resultado é maior e ocorre de forma igualmente mais rápida.

Em nenhum outro lugar, esse resultado é obtido de forma tão rápida quanto na empresa. Se o educando tiver uma boa educação formal e familiar e tiver a sorte de trabalhar numa empresa-escola, suas habilidades, capacidades, conhecimento e experiência, serão potencializados de forma rápida, eficiente e motivadora para si e para as demais pessoas que com esta conviverem. Serão maiores e melhores resultados para o educador, no caso a empresa e para o educando, no caso o colaborador da empresa.

As pequenas e médias empresas têm pouco hábito de investir tempo e recursos materiais e humanos nos processos de ensino e aprendizagem. Parece haver uma percepção de que investir na educação do trabalhador significará perdê-lo rapidamente para a concorrência. Além de haver uma crença de que ao contratar o trabalhador o objetivo é que o mesmo produza e não proporcione mais investimentos ou, para muitos, despesas, durante o período de sua jornada de trabalho.

Com o processo de urbanização ocorrido principalmente nas décadas de 1960 e 1970 o Brasil ganhou uma nova massa de trabalhadores que migraram do campo para o meio urbano. Muitos desses trabalhadores, com baixo nível escolar, porém com altos índices de aprendizado prático, adquiridos nessas últimas quatro décadas, estão se aposentando. Muitos porque chegaram ao final de suas vidas produtivas e outros porque, no momento em que perdem os seus empregos, não estão mais conseguindo novos empregos, principalmente por conta de seu baixo nível de escolaridade somados a idade avançada. 

As empresas estão trocando esses profissionais por jovens com maiores níveis de escolaridade, porém com baixíssimos índices de aprendizado prático voltado para o trabalho. Pode estar aí um dos fatores que explicam a baixa produtividade da indústria de transformação no Brasil, nos últimos anos. É óbvio que não é o único motivo, porém pode sim, ser um dos principais.

Como vivemos na sociedade do conhecimento, é praticamente uma unanimidade a crença de que o Brasil precisa rapidamente mudar seu paradigma educacional. Não basta nos enganarmos aprovando nossos alunos, passando-os de séries na escola, de forma artificial, para dizermos que temos uma população com um maior nível de escolaridade formal.

O que precisamos é de uma escola mais prática e mais objetiva. E essa escola deverá ser considerada como escola técnica, colégios, universidades, institutos de pesquisas, famílias, empresas e sociedade como um todo. Não podemos relegar o processo de ensino e aprendizagem somente à família e, principalmente à escola, ainda mais da forma como consideramos hoje, somente colégios, escolas técnicas e universidades. É muito pouco.

O educador Paulo Freire afirmava: “Eu defendo uma educação que respeite a identidade cultural do educando”. Se Paulo Freire estivesse vivo e eu tivesse a oportunidade de conversar com ele, pediria a ele acrescentar à sua brilhante tese, representada por essa frase, o fato de que, no Brasil, temos que respeitar, principalmente, as limitações do educando.

Penso que aqui está um enfoque pouco observado pelo nosso sistema educacional. E toda e qualquer tentativa de mudar nosso paradigma educacional terá que levar em consideração duas questões relevantes. A primeira é a extensão da palavra escola, de forma prática e objetiva, para a família, a sociedade e principalmente, a empresa. E a segunda é construirmos um sistema educacional que respeite, além da identidade cultural do educando, as suas limitações. E respeitar limitações não significa aprová-lo compulsoriamente e enviá-lo para a série seguinte do ensino formal. Não digo que é somente isso. Precisamos de muito mais. Mas é também isso.

Fontes:
1 - http://animarparaeducar.blogspot.com/2007/03/educao-formal-no-formal-e-informal.html
2 - Peris, Alfredo F. Produtividade do Trabalho na Indústria de Transformação: realidade e perspectivas. Revista Átomo, Edição nº 8 – Dezembro de 2010. Disponível em: http://perisconsultoria.blogspot.com/2011/01/produtividade-do-trabalho-na-industria.html
3 - Santos, Roberto Vatan dos. Abordagens do Processo de Ensino e Aprendizagem. Revista Integração. Jan/Fev/Mar – 2005 – Ano XI, nº 40 – p. 19 – 31

 

Autor: Alfredo Fonceca Peris
Economista e sócio-diretor da Peris Consultoria Empresarial