quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Gestão Empresarial: modismo de linguagem ou ação empresarial

Por Alfredo Fonceca Peris

No mundo corporativo, existem expressões, modismos e jargões que, muitas vezes, são utilizados sem conhecimento de seu significado e sem saber se cabe dentro da discussão ou do momento. Dentre eles, pode-se citar a gestão empresarial. Fala-se muito em gestão, mas nem sempre se atenta ao certo ao que significa a palavra gestão, que pode ser aplicada não somente ao ambiente empresarial, mas, também, a outras situações onde existem relações humanas, quer sejam sociais ou econômicas.

A palavra gestão pode ser sinônimo de gerenciamento. E esse, por sua vez, pode ser sinônimo de acompanhamento e não, necessária e imediatamente, de resolução de problemas e de conflitos.

Ao longo desses anos que venho trabalhando na atividade de consultoria, tenho observado que as pessoas parecem imaginar que fazer a gestão de uma empresa, por exemplo, significa resolver os problemas. Nem sempre é possível resolver os problemas assim de pronto, no momento em que eles surgem ou que alguém se dá conta de que existe e que está instalado.

O mais correto parece ser acompanhar os problemas e as situações e ir procurando soluções à medida que vão ocorrendo as várias etapas do problema. Fazer a gestão é isso. Começa pelo diagnóstico do problema, o que demanda inúmeros ingredientes. Pois identificar de maneira precisa a natureza, as causas e as implicações de um problema é uma tarefa que requer dispêndio de tempo, habilidade, conhecimento, experiência e energia.

O segundo passo é dar ciência aos demais membros do grupo que aquele problema existe. Nesse momento, as partes envolvidas na sua gestão precisam saber que o desenvolvimento das atividades normais e daquelas mais afeitas ao problema vão fazendo com que o mesmo vá ganhando diferentes dimensões em função das ações de gestão sobre ele.

O terceiro passo é ir fazendo as medições e repassar a um dos membros do grupo a responsabilidade pelo seu acompanhamento. Isso impedirá que ocorra a situação mais grave de qualquer problema: a falta de decisões quando a administração do problema requer que elas sejam tomadas ou o simples esquecimento porque surgiu algo novo para se preocupar. A ausência de decisões certas, na hora certa, poderá fazer com que um pequeno problema se transforme num grande problema, se alastrando para outros departamentos e afetando outras pessoas.

A percepção é que muitos usam a expressão sem saber direito o que significa e o que implica. Usam muito mais porque a expressão é pomposa. Outros, que deveriam saber seu significado e suas implicações, pois suas funções dentro do grupo, quer seja ele social ou empresarial requer, simplesmente a desconhecem ou não dão mesmo a importância devida.

Para não ser somente teórico e parecer muito vago, posso dar um exemplo. O setor contábil das empresas. Atualmente, com as alterações e as inovações promovidas pelo governo, com a exigência de programas e sistemas como Sintegra, Nota Fiscal Eletrônica, Conhecimento de Transporte Eletrônico, Sped Fiscal e Contábil, sem contar a adequação das demonstrações contábeis das pequenas e médias empresas às normas internacionais de contabilidade, o setor contábil está se transformando no mais estratégico setor das empresas.

Como conseqüência, passa a requerer uma gestão diária de caixa e bancos, onde tudo que for pago e recebido deverá ser acompanhado de documentos emitidos de maneira correta, uma vez que consertos e arranjos futuros tornarão quase impossíveis ou, quando ocorrerem, deixarão verdadeiras fraturas expostas nos arquivos das empresas.

Ações diárias no sentido de organizar a empresa para impedir que os processos sejam feitos de forma incorreta são exemplos de ações de gestão empresarial corriqueira mas que, somadas, serão capazes de tornar a gestão da empresa como um todo extremamente facilitada e sua situação econômica e financeira totalmente viabilizada.

Assim, fazer a gestão de um processo, de um problema, de uma situação qualquer ou até de uma grande empresa é acompanhar atentamente o que está acontecendo e ir tomando as pequenas decisões no momento em que são requeridas. É um trabalho estilo “formiguinha”, feito de forma silenciosa e muito educativa para o conjunto das pessoas envolvidas que evita que grandes decisões tenham que ser tomadas de forma a causar grandes impactos e grandes custos, tanto humanos quanto econômicos.